«COR: um colóquio sobre luz e pigmento»

4 de outubro de 2017 – Sala de reuniões 2, FLUP

10h30 – Sessão de abertura
10h30 – Celina Silva, “Almada: anotações acerca da cor”

11h00 – Mesa 1
11h00 – Maria Inês Lopes, “A cor está nos olhos de quem vê: tempo e história na construção social do gosto”
11h20 – Pedro Monteiro, “A cor do vestuário no Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda
11h40 – Debate

Intervalo

14h30 – Mesa 2
14h30 – Jaqueline Pierazzo, “O vermelho em tradução: uma leitura do conto A máscara da morte rubra
14h50 – Ivana Schneider, “A poética das cores em Cara-de-Bonze de Guimarães Rosa”
15h10 – Gabriel Innocentini, “Eugénio de Andrade, o azul de um sol sem rugas
15h30 – Debate

Intervalo

16h00 – Mesa 3
16h00 – Ana Isabel Costa, “Mata-borrão: a cor em poemas selecionados de Mário Cesariny”
16h20 – Inês Eusébio, “As paredes esperam a luz: a imagem da casa na poesia de Fernando Guimarães”
16h40 – Daniel Ferreira, “Para uma cartografia das cores: algumas notas sobre Matéria (2014) de Rosa Maria Martelo”
17h00 – Debate

17h30 – Sessão de encerramento
17h30 – Daniel Floquet, “Clara Casa Consubstanciada: um estudo sobre o papel das cores na narrativa de Aquarius de Kleber Mendonça Filho”

Programação paralela
– Sandrine Malta, “Nas nuvens: se as nuvens tivessem nome, seria o teu” (Exposição)

 

RESUMOS

 

Celina Silva, “Almada: anotações acerca da cor”

Relance na obra literária e performativa de José de Almada Negreiros através da tratamento da cor e sua funcionalidade simbólica ou não desde o “verde esmeralda” patente em A Engomadeira (1915-17), passando pelas cores espectrais do Club das 5 Cores (1916-18), ao branco luminoso da luz de Presença (1935).

Almada Negreiros, uma maneira de ser moderno, Catálogo da Exposição, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2017.
Almada Negreiros: o que nunca ninguém soube que houve, Catálogo da Exposição, Fundação EDP, Lisboa, 2015.
Almada por contar, Catálogo da Exposição, BNP e Babel, Lisboa, 2013.

Palavras-chave: Almada Negreiros; cor; simbolismo.

Celina Silva, docente de Teoria de Literatura na FLUP, celebra este ano o 25º aniversário do seu doutoramento com uma dissertação sobre Almada Negreiros. Negreiros é, de resto, uma das suas áreas de interesse, tendo organizado em 1996 o colóquio internacional Almada Negreiros: a descoberta como necessidade.

 

Maria Inês Lopes, “A cor está nos olhos de quem vê: tempo e história na construção social do gosto”

Queremos trazer à reflexão sobre a cor o papel do peso do tempo e da história sobre a sua perceção, quer de ponto de vista material, como simbólico. A partir de uma análise simultaneamente diacrónica e sincrónica, propomos construir um quadro interpretativo que associe a história da arte, à antropologia e à sociologia e que permita aliar a compreensão das flutuações dos usos da cor na arte / cultura material com a construção social do gosto. Ao falarmos da construção social do gosto falamos das divergências das categorias de percepção em grupos distintos. Assim, para além da análise histórica na longue durée, propomos, também, o questionamento das diferentes fruições estéticas da cor, dentro do mesmo espaço e tempo, de modo a analisar como a perceção sensorial é para além de um produto natural uma construção social, passível de historicização na sua mutabilidade.

Palavras-chave: História; cultura material; perceção sensorial.

Maria Inês Afonso Lopes (Porto, Portugal) é licenciada em História da Arte e mestre em História da Arte Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. É doutorada em co-tutela entre a École des Hautes Études en Sciences Sociales e a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com uma tese intitulada Por minha alma: raízes do culto das almas do Purgatório. Tem vários artigos e comunicações em congressos nas áreas de História da Arte, História e Antropologia da Imagem. É investigadora do Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória – CITCEM.

 

Pedro Monteiro, “A cor do vestuário no Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda

O objetivo desta comunicação passa por analisar a coloração do vestuário das personagens do Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda, um dos mais significativos livros de cavalarias do quinhentismo português, escrito por Jorge Ferreira de Vasconcelos. Desta forma, através da importância das descrições em torno do vestuário dos principais cavaleiros e donzelas do romance, pretendemos lançar algumas hipóteses relativamente à codificação das cores nesta narrativa, tendo como pano de fundo a associação entre cor e os traços sociais de cada personagem.

Palavras-chave: livros de cavalarias; vestuário; cor.

Pedro Monteiro é Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, encontrando-se no presente momento a terminar o Mestrado em Estudos Medievais na mesma instituição. As suas áreas de interesse passam essencialmente pela cronística medieval, assim como pelos romances de cavalarias tardo-medievais e renascentistas.

 

Jaqueline Pierazzo, “O vermelho em tradução: uma leitura do conto A máscara da morte rubra

Edgar Allan Poe e Clarice Lispector foram dois grandes representantes da ficção curta. Enquanto Poe determinou as diretrizes do conto moderno, os contos de Lispector colaboraram para uma maior visibilidade da Literatura Brasileira em âmbito mundial. A contribuição de Lispector para a divulgação do gênero no Brasil, contudo, não se limitava à obra de sua autoria e a escritora traduziu diversos contos do inglês, do francês e do espanhol. Entre estas traduções, encontramos a adaptação do conto The Masque of the Red Death, que, por sua vez, coloca em destaque a importância das cores para a construção narrativa. Neste contexto, a presente comunicação tem como objetivo geral realizar uma leitura comparada entre a adaptação realizada por Clarice Lispector e o respectivo conto publicado por Poe, tendo em vista o papel desempenhado pelas cores (e por suas traduções) no âmbito das histórias.

Palavras-chave: Edgar Allan Poe; Clarice Lispector; vermelho.

Licenciada em Letras pela Universidade Estadual de Campinas, Brasil, onde foi bolsista de iniciação científica com o projeto intitulado O Clube dos Artistas Modernos por Flávio de Carvalho, possui mestrado em Estudos Anglo-Americanos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto com a dissertação de título Entre o terror e o sublime: a figura feminina em Berenice, Morella e Ligeia. Atualmente, frequenta o 3o Ciclo de Estudos em Estudos Literários, Culturais e Interartísticos também na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Sua área de pesquisa abrange as Humanidades Digitais e os Estudos Anglo-Americanos, com destaque para o terror gótico do século XIX e a obra de Edgar Allan Poe.

 

Ivana Schneider, “A poética das cores em Cara-de-Bonze de Guimarães Rosa”

Esta comunicação investigará a utilização das cores na novela Cara-de-Bronze, de Guimarães Rosa, a fim de desenvolver uma leitura acerca da personagem Muito Branca-de-todas-as-cores, associando-a ao sentido poético evocado pelo texto. Para tanto, as cores serão analisadas a partir de seu potencial simbólico dentro do espaço literário, entendidas como objetos capazes de produzir um efeito amplificador e renovador de sentido. Há nas obras de Guimarães Rosa uma tendência a emular propriedades estilísticas de outras artes, tais como a pintura, o teatro, o cinema e a música, permitindo uma relação dialógica entre diferentes meios artísticos. Tais características serão utilizadas a fim de entender como o uso da cor branca, enquanto união de todas as cores, articula-se à dimensão da potencialidade da palavra poética nesta novela. Para além desta perspectiva, a própria descrição do personagem Cara-de-Bronze revela-se como uma construção híbrida, feita de fragmentos, materializada pelo apelido cromático. Deste modo, dois movimentos antagônicos parecem compor esses dois personagens: por um lado, a figura desarmônica de homem “desinteirado”, descrito em frases fragmentadas; por outro, a figura da suposta noiva, descrita em uma harmonia de cores – ambos construídos a partir do processo imaginativo dos demais personagens. Para fundamentar tais abordagens, serão utilizados os trabalhos de Eva Heller, A psicologia das cores (2013), e de Luciano Guimarães, A cor como informação: a construção biofísica, linguística e cultural da simbologia das cores (2000), entre outros autores.

Palavras-chave: Guimarães Rosa; cor; intermedialidade.

Ivana Schneider, brasileira, nascida em Belém do Pará, possui graduação em Letras pela Universidade da Amazônia (2006); concluiu o curso de especialização em Língua Portuguesa: uma abordagem textual pela Universidade Federal do Pará em 2009; e em 2016, terminou o Mestrado em Estudos Comparatistas na FLUL com a dissertação O espaço poético sertanejo e as figuras performáticas em Corpo de baile de Guimarães Rosa; atualmente está no programa de Doutoramento em Estudos Literários, Culturais e Interartísticos na FLUP, escrevendo a tese intitulada Abrindo o espaço em círculo fechado: a diluição das margens nas obras de  Guimarães Rosa e Maria Velho da Costa.

 

Gabriel Innocentini, “Eugénio de Andrade, o azul de um sol sem rugas

Seria possível descrever um sistema de cores na poesia de Eugénio de Andrade? Investigar o modo como a cor se faz, qual seu significado, como se constrói tal sentido? Há de facto um uso simbólico da cor, como na tradição simbolista e baudelairiana da doutrina das correspondências? Eugénio aponta para o sentido pictórico de sua poesia ao afirmar trabalhar com cores cada vez mais surdas. A proposta da comunicação é tentar responder a estas questões a partir da cor azul, geralmente associada à luz (a palavra luz está contida em anagrama dentro da palavra azul) e à força ativa do desejo.

Palavras-chaves: azul; desejo; corpo.

Gabriel José Innocentini Hayashi nasceu em São Carlos (SP), em 1987. Seu doutoramento na FLUP envolve a escrita do corpo de Eugénio de Andrade.

 

Ana Isabel Costa, “Mata-borrão: a cor em poemas selecionados de Mário Cesariny”

Poeta-pintor, ou pintor-poeta, Mário Cesariny de Vasconcelos é essencialmente conhecido como o expoente do movimento surrealista, recordado pelas célebres imagens impossíveis e metáforas vivas que criou para descrever e “reabilitar”, nas suas palavras, “o real quotidiano”. Curiosamente, segundo Gastão Cruz, “[p]oderíamos até dizer que em Mário Cesariny encontrou a poesia portuguesa um dos seus autores mais caracterizadamente realistas”, referindo-se à primeira vaga de poesia de Cesariny. A poesia de Cesariny é vincadamente marcada pelo sentido da visão e pela sua ligação com as artes plásticas. Nesse sentido, a cor e elementos da natureza que a evoquem (como o “crepúsculo” e “o azul do firmamento”) assumem na poesia de Cesariny um lugar destacado. Em entrevista, Cesariny mencionou como a liberdade das cores na pintura lhe permitiu atingir a liberdade nos seus versos. Sendo a poesia considerada pelo surrealismo como um espaço para o exercício da inovação e do experimentalismo, esta comunicação pretende analisar o papel da cor na poesia de Mário Cesariny, em especial do azul, aliando a essa análise a capacidade do poeta de assimilar e transmitir o mundo com uma justeza peculiar e inigualável, olhando para a visualidade e plasticidade da sua linguagem. A análise dos poemas passará também por considerações sobre a pintura do pintor-poeta e as suas escolhas da cor.

Palavras-chave: Mário Cesariny; visão; pintura.

Ana Isabel Costa é licenciada em Línguas, Literaturas e Culturas e mestre em Estudos Anglo-Americanos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Na sua dissertação de mestrado, analisou personagens masculinas em obras literárias do século XX, após um estágio de investigação Erasmus+ na Trinity College, em Dublin. Estagiou também, como jovem investigadora, no CETAPS (Centre for English Translation and Anglo-American Studies), centro de investigação com o qual ainda colabora.

 

Inês Eusébio, “As paredes esperam a luz: a imagem da casa na poesia de Fernando Guimarães”

Na poesia de Fernando Guimarães, a Casa é uma imagem obsessiva, surgindo em todos os volumes publicados entre 1956 e 2008. É a partir dessa imagem privilegiada que o autor trata o binómio luz-sombra, assumindo-o como uma das mais relevantes dicotomias da sua produção poética. Na medida em que influenciam fortemente as paixões, a luminosidade e a escuridão, servem de mote para a reminiscência, permitindo assim a problematização da questão da memória. A Casa é esse espaço de confluência entre luz e sombra, responsável por potenciar a sistematização dos eventos passados e o ordenamento do tempo presente, afirmando-se, por isso, enquanto “experiência compilatória”.

Palavras-chave: Fernando Guimarães; luz; sombra.

Inês de Carvalho Eusébio (Póvoa de Varzim, 1992) é mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes (variante de Teoria da Literatura), pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde apresentou uma dissertação sobre a imagem da Casa na poesia de Fernando Guimarães. É licenciada pela mesma instituição em Estudos Portugueses e Lusófonos.

 

Daniel Ferreira, “Para uma cartografia das cores: algumas notas sobre Matéria (2014) de Rosa Maria Martelo”

A partir da leitura de Matéria (2014) de Rosa Maria Martelo, propõe-se aqui uma leitura dos exercícios de criação de imagens explorados pela autora.

Palavras-chave: Rosa Maria Martelo; cor; imagem.

Daniel Ferreira licenciou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde frequentou ainda o mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes (no ramo de Estudos Comparatistas e Relações Interculturais). Atualmente é estudante do mestrado em Português Língua Segunda / Língua Estrangeira na mesma instituição. As suas áreas de interesse são, entre outras, os Estudos Interartes, os Estudos Feministas e a Teoria Queer.

 

Daniel Floquet, “Clara Casa Consubstanciada: um estudo sobre o papel das cores na narrativa de Aquarius de Kleber Mendonça Filho”

Esta apresentação analisará o papel das cores no filme Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, procurando entender como estas organizam as diferentes etapas da narrativa, a partir do rosa, do azul, do branco e do negro. Nesse sentido, procurar-se-á entender não apenas o papel simbólico dessas cores para o enredo da obra de Mendonça, mas também que estratégias narrativas foram empregadas para destacá-las e associá-las a sua protagonista, Clara, interpretada pela atriz Sonia Braga. O filme de Mendonça entrelaça também as esferas da ética e da estética, incorporando fortemente o tema da memória ao fundir memória pessoal e memória coletiva, denunciando assim o modo como o interesse imobiliário prejudica a preservação da memória histórica no Brasil contemporâneo, particularmente na região Nordeste do país, espaço desta narrativa. Entre as ferramentas teóricas que pretendo utilizar, encontram-se os estudos de Angela Dalle Vacche, Brian Price e Rudolf Arnheim acerca das cores na linguagem do cinema, além de Eva Heller e Luciano Guimarães no campo da simbologia das cores.

Palavras-chave: Kleber Mendonça Filho; cor; cinema.

Daniel Damasceno Floquet é mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e licenciado em Letras (Português – Literatura) pela Universidade Federal do Ceará. Atualmente, prepara a tese de doutoramento sobre as representações da violência nas obras de Maria Velho da Costa e Edna O’Brien. Possui experiência no magistério como professor de Língua Portuguesa.

 

Sandrine Malta, “Nas nuvens: se as nuvens tivessem nome, seria o teu”

O projeto resulta da destruição de “um plano simples” de Scott Smith. Desta vez, o plano é simples e deixa de lado as mortes e o sangue do típico policial. Mantendo o calculismo e seleção nas palavras, este projeto dá origem a 15 poemas-colagens. Valorizando o lado mais pacífico da cor azul, pretende-se dar voz ao lado mais aéreo do amor.

Exposição patente durante o colóquio.

Licenciada em Línguas, Literaturas e Culturas e com uma Pós-Graduação em Multimédia, Sandrine explora e interliga diferentes áreas.

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