«COR: um colóquio sobre luz e pigmento»

4 de outubro de 2017 – Sala de reuniões 2, FLUP

10h30 – Sessão de abertura
10h30 – Celina Silva, “Almada: anotações acerca da cor”

11h00 – Mesa 1
11h00 – Maria Inês Lopes, “A cor está nos olhos de quem vê: tempo e história na construção social do gosto”
11h20 – Pedro Monteiro, “A cor do vestuário no Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda
11h40 – Debate

Intervalo

14h30 – Mesa 2
14h30 – Jaqueline Pierazzo, “O vermelho em tradução: uma leitura do conto A máscara da morte rubra
14h50 – Ivana Schneider, “A poética das cores em Cara-de-Bonze de Guimarães Rosa”
15h10 – Gabriel Innocentini, “Eugénio de Andrade, o azul de um sol sem rugas
15h30 – Debate

Intervalo

16h00 – Mesa 3
16h00 – Ana Isabel Costa, “Mata-borrão: a cor em poemas selecionados de Mário Cesariny”
16h20 – Inês Eusébio, “As paredes esperam a luz: a imagem da casa na poesia de Fernando Guimarães”
16h40 – Daniel Ferreira, “Para uma cartografia das cores: algumas notas sobre Matéria (2014) de Rosa Maria Martelo”
17h00 – Debate

17h30 – Sessão de encerramento
17h30 – Daniel Floquet, “Clara Casa Consubstanciada: um estudo sobre o papel das cores na narrativa de Aquarius de Kleber Mendonça Filho”

Programação paralela
– Sandrine Malta, “Nas nuvens: se as nuvens tivessem nome, seria o teu” (Exposição)

 

RESUMOS

 

Celina Silva, “Almada: anotações acerca da cor”

Relance na obra literária e performativa de José de Almada Negreiros através da tratamento da cor e sua funcionalidade simbólica ou não desde o “verde esmeralda” patente em A Engomadeira (1915-17), passando pelas cores espectrais do Club das 5 Cores (1916-18), ao branco luminoso da luz de Presença (1935).

Almada Negreiros, uma maneira de ser moderno, Catálogo da Exposição, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2017.
Almada Negreiros: o que nunca ninguém soube que houve, Catálogo da Exposição, Fundação EDP, Lisboa, 2015.
Almada por contar, Catálogo da Exposição, BNP e Babel, Lisboa, 2013.

Palavras-chave: Almada Negreiros; cor; simbolismo.

Celina Silva, docente de Teoria de Literatura na FLUP, celebra este ano o 25º aniversário do seu doutoramento com uma dissertação sobre Almada Negreiros. Negreiros é, de resto, uma das suas áreas de interesse, tendo organizado em 1996 o colóquio internacional Almada Negreiros: a descoberta como necessidade.

 

Maria Inês Lopes, “A cor está nos olhos de quem vê: tempo e história na construção social do gosto”

Queremos trazer à reflexão sobre a cor o papel do peso do tempo e da história sobre a sua perceção, quer de ponto de vista material, como simbólico. A partir de uma análise simultaneamente diacrónica e sincrónica, propomos construir um quadro interpretativo que associe a história da arte, à antropologia e à sociologia e que permita aliar a compreensão das flutuações dos usos da cor na arte / cultura material com a construção social do gosto. Ao falarmos da construção social do gosto falamos das divergências das categorias de percepção em grupos distintos. Assim, para além da análise histórica na longue durée, propomos, também, o questionamento das diferentes fruições estéticas da cor, dentro do mesmo espaço e tempo, de modo a analisar como a perceção sensorial é para além de um produto natural uma construção social, passível de historicização na sua mutabilidade.

Palavras-chave: História; cultura material; perceção sensorial.

Maria Inês Afonso Lopes (Porto, Portugal) é licenciada em História da Arte e mestre em História da Arte Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. É doutorada em co-tutela entre a École des Hautes Études en Sciences Sociales e a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com uma tese intitulada Por minha alma: raízes do culto das almas do Purgatório. Tem vários artigos e comunicações em congressos nas áreas de História da Arte, História e Antropologia da Imagem. É investigadora do Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória – CITCEM.

 

Pedro Monteiro, “A cor do vestuário no Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda

O objetivo desta comunicação passa por analisar a coloração do vestuário das personagens do Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda, um dos mais significativos livros de cavalarias do quinhentismo português, escrito por Jorge Ferreira de Vasconcelos. Desta forma, através da importância das descrições em torno do vestuário dos principais cavaleiros e donzelas do romance, pretendemos lançar algumas hipóteses relativamente à codificação das cores nesta narrativa, tendo como pano de fundo a associação entre cor e os traços sociais de cada personagem.

Palavras-chave: livros de cavalarias; vestuário; cor.

Pedro Monteiro é Licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, encontrando-se no presente momento a terminar o Mestrado em Estudos Medievais na mesma instituição. As suas áreas de interesse passam essencialmente pela cronística medieval, assim como pelos romances de cavalarias tardo-medievais e renascentistas.

 

Jaqueline Pierazzo, “O vermelho em tradução: uma leitura do conto A máscara da morte rubra

Edgar Allan Poe e Clarice Lispector foram dois grandes representantes da ficção curta. Enquanto Poe determinou as diretrizes do conto moderno, os contos de Lispector colaboraram para uma maior visibilidade da Literatura Brasileira em âmbito mundial. A contribuição de Lispector para a divulgação do gênero no Brasil, contudo, não se limitava à obra de sua autoria e a escritora traduziu diversos contos do inglês, do francês e do espanhol. Entre estas traduções, encontramos a adaptação do conto The Masque of the Red Death, que, por sua vez, coloca em destaque a importância das cores para a construção narrativa. Neste contexto, a presente comunicação tem como objetivo geral realizar uma leitura comparada entre a adaptação realizada por Clarice Lispector e o respectivo conto publicado por Poe, tendo em vista o papel desempenhado pelas cores (e por suas traduções) no âmbito das histórias.

Palavras-chave: Edgar Allan Poe; Clarice Lispector; vermelho.

Licenciada em Letras pela Universidade Estadual de Campinas, Brasil, onde foi bolsista de iniciação científica com o projeto intitulado O Clube dos Artistas Modernos por Flávio de Carvalho, possui mestrado em Estudos Anglo-Americanos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto com a dissertação de título Entre o terror e o sublime: a figura feminina em Berenice, Morella e Ligeia. Atualmente, frequenta o 3o Ciclo de Estudos em Estudos Literários, Culturais e Interartísticos também na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Sua área de pesquisa abrange as Humanidades Digitais e os Estudos Anglo-Americanos, com destaque para o terror gótico do século XIX e a obra de Edgar Allan Poe.

 

Ivana Schneider, “A poética das cores em Cara-de-Bonze de Guimarães Rosa”

Esta comunicação investigará a utilização das cores na novela Cara-de-Bronze, de Guimarães Rosa, a fim de desenvolver uma leitura acerca da personagem Muito Branca-de-todas-as-cores, associando-a ao sentido poético evocado pelo texto. Para tanto, as cores serão analisadas a partir de seu potencial simbólico dentro do espaço literário, entendidas como objetos capazes de produzir um efeito amplificador e renovador de sentido. Há nas obras de Guimarães Rosa uma tendência a emular propriedades estilísticas de outras artes, tais como a pintura, o teatro, o cinema e a música, permitindo uma relação dialógica entre diferentes meios artísticos. Tais características serão utilizadas a fim de entender como o uso da cor branca, enquanto união de todas as cores, articula-se à dimensão da potencialidade da palavra poética nesta novela. Para além desta perspectiva, a própria descrição do personagem Cara-de-Bronze revela-se como uma construção híbrida, feita de fragmentos, materializada pelo apelido cromático. Deste modo, dois movimentos antagônicos parecem compor esses dois personagens: por um lado, a figura desarmônica de homem “desinteirado”, descrito em frases fragmentadas; por outro, a figura da suposta noiva, descrita em uma harmonia de cores – ambos construídos a partir do processo imaginativo dos demais personagens. Para fundamentar tais abordagens, serão utilizados os trabalhos de Eva Heller, A psicologia das cores (2013), e de Luciano Guimarães, A cor como informação: a construção biofísica, linguística e cultural da simbologia das cores (2000), entre outros autores.

Palavras-chave: Guimarães Rosa; cor; intermedialidade.

Ivana Schneider, brasileira, nascida em Belém do Pará, possui graduação em Letras pela Universidade da Amazônia (2006); concluiu o curso de especialização em Língua Portuguesa: uma abordagem textual pela Universidade Federal do Pará em 2009; e em 2016, terminou o Mestrado em Estudos Comparatistas na FLUL com a dissertação O espaço poético sertanejo e as figuras performáticas em Corpo de baile de Guimarães Rosa; atualmente está no programa de Doutoramento em Estudos Literários, Culturais e Interartísticos na FLUP, escrevendo a tese intitulada Abrindo o espaço em círculo fechado: a diluição das margens nas obras de  Guimarães Rosa e Maria Velho da Costa.

 

Gabriel Innocentini, “Eugénio de Andrade, o azul de um sol sem rugas

Seria possível descrever um sistema de cores na poesia de Eugénio de Andrade? Investigar o modo como a cor se faz, qual seu significado, como se constrói tal sentido? Há de facto um uso simbólico da cor, como na tradição simbolista e baudelairiana da doutrina das correspondências? Eugénio aponta para o sentido pictórico de sua poesia ao afirmar trabalhar com cores cada vez mais surdas. A proposta da comunicação é tentar responder a estas questões a partir da cor azul, geralmente associada à luz (a palavra luz está contida em anagrama dentro da palavra azul) e à força ativa do desejo.

Palavras-chaves: azul; desejo; corpo.

Gabriel José Innocentini Hayashi nasceu em São Carlos (SP), em 1987. Seu doutoramento na FLUP envolve a escrita do corpo de Eugénio de Andrade.

 

Ana Isabel Costa, “Mata-borrão: a cor em poemas selecionados de Mário Cesariny”

Poeta-pintor, ou pintor-poeta, Mário Cesariny de Vasconcelos é essencialmente conhecido como o expoente do movimento surrealista, recordado pelas célebres imagens impossíveis e metáforas vivas que criou para descrever e “reabilitar”, nas suas palavras, “o real quotidiano”. Curiosamente, segundo Gastão Cruz, “[p]oderíamos até dizer que em Mário Cesariny encontrou a poesia portuguesa um dos seus autores mais caracterizadamente realistas”, referindo-se à primeira vaga de poesia de Cesariny. A poesia de Cesariny é vincadamente marcada pelo sentido da visão e pela sua ligação com as artes plásticas. Nesse sentido, a cor e elementos da natureza que a evoquem (como o “crepúsculo” e “o azul do firmamento”) assumem na poesia de Cesariny um lugar destacado. Em entrevista, Cesariny mencionou como a liberdade das cores na pintura lhe permitiu atingir a liberdade nos seus versos. Sendo a poesia considerada pelo surrealismo como um espaço para o exercício da inovação e do experimentalismo, esta comunicação pretende analisar o papel da cor na poesia de Mário Cesariny, em especial do azul, aliando a essa análise a capacidade do poeta de assimilar e transmitir o mundo com uma justeza peculiar e inigualável, olhando para a visualidade e plasticidade da sua linguagem. A análise dos poemas passará também por considerações sobre a pintura do pintor-poeta e as suas escolhas da cor.

Palavras-chave: Mário Cesariny; visão; pintura.

Ana Isabel Costa é licenciada em Línguas, Literaturas e Culturas e mestre em Estudos Anglo-Americanos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Na sua dissertação de mestrado, analisou personagens masculinas em obras literárias do século XX, após um estágio de investigação Erasmus+ na Trinity College, em Dublin. Estagiou também, como jovem investigadora, no CETAPS (Centre for English Translation and Anglo-American Studies), centro de investigação com o qual ainda colabora.

 

Inês Eusébio, “As paredes esperam a luz: a imagem da casa na poesia de Fernando Guimarães”

Na poesia de Fernando Guimarães, a Casa é uma imagem obsessiva, surgindo em todos os volumes publicados entre 1956 e 2008. É a partir dessa imagem privilegiada que o autor trata o binómio luz-sombra, assumindo-o como uma das mais relevantes dicotomias da sua produção poética. Na medida em que influenciam fortemente as paixões, a luminosidade e a escuridão, servem de mote para a reminiscência, permitindo assim a problematização da questão da memória. A Casa é esse espaço de confluência entre luz e sombra, responsável por potenciar a sistematização dos eventos passados e o ordenamento do tempo presente, afirmando-se, por isso, enquanto “experiência compilatória”.

Palavras-chave: Fernando Guimarães; luz; sombra.

Inês de Carvalho Eusébio (Póvoa de Varzim, 1992) é mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes (variante de Teoria da Literatura), pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde apresentou uma dissertação sobre a imagem da Casa na poesia de Fernando Guimarães. É licenciada pela mesma instituição em Estudos Portugueses e Lusófonos.

 

Daniel Ferreira, “Para uma cartografia das cores: algumas notas sobre Matéria (2014) de Rosa Maria Martelo”

A partir da leitura de Matéria (2014) de Rosa Maria Martelo, propõe-se aqui uma leitura dos exercícios de criação de imagens explorados pela autora.

Palavras-chave: Rosa Maria Martelo; cor; imagem.

Daniel Ferreira licenciou-se em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde frequentou ainda o mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes (no ramo de Estudos Comparatistas e Relações Interculturais). Atualmente é estudante do mestrado em Português Língua Segunda / Língua Estrangeira na mesma instituição. As suas áreas de interesse são, entre outras, os Estudos Interartes, os Estudos Feministas e a Teoria Queer.

 

Daniel Floquet, “Clara Casa Consubstanciada: um estudo sobre o papel das cores na narrativa de Aquarius de Kleber Mendonça Filho”

Esta apresentação analisará o papel das cores no filme Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, procurando entender como estas organizam as diferentes etapas da narrativa, a partir do rosa, do azul, do branco e do negro. Nesse sentido, procurar-se-á entender não apenas o papel simbólico dessas cores para o enredo da obra de Mendonça, mas também que estratégias narrativas foram empregadas para destacá-las e associá-las a sua protagonista, Clara, interpretada pela atriz Sonia Braga. O filme de Mendonça entrelaça também as esferas da ética e da estética, incorporando fortemente o tema da memória ao fundir memória pessoal e memória coletiva, denunciando assim o modo como o interesse imobiliário prejudica a preservação da memória histórica no Brasil contemporâneo, particularmente na região Nordeste do país, espaço desta narrativa. Entre as ferramentas teóricas que pretendo utilizar, encontram-se os estudos de Angela Dalle Vacche, Brian Price e Rudolf Arnheim acerca das cores na linguagem do cinema, além de Eva Heller e Luciano Guimarães no campo da simbologia das cores.

Palavras-chave: Kleber Mendonça Filho; cor; cinema.

Daniel Damasceno Floquet é mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e licenciado em Letras (Português – Literatura) pela Universidade Federal do Ceará. Atualmente, prepara a tese de doutoramento sobre as representações da violência nas obras de Maria Velho da Costa e Edna O’Brien. Possui experiência no magistério como professor de Língua Portuguesa.

 

Sandrine Malta, “Nas nuvens: se as nuvens tivessem nome, seria o teu”

O projeto resulta da destruição de “um plano simples” de Scott Smith. Desta vez, o plano é simples e deixa de lado as mortes e o sangue do típico policial. Mantendo o calculismo e seleção nas palavras, este projeto dá origem a 15 poemas-colagens. Valorizando o lado mais pacífico da cor azul, pretende-se dar voz ao lado mais aéreo do amor.

Exposição patente durante o colóquio.

Licenciada em Línguas, Literaturas e Culturas e com uma Pós-Graduação em Multimédia, Sandrine explora e interliga diferentes áreas.

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CONVOCATÓRIA

O tema do terceiro encontro de investigação do Grupo de Estudos Lusófonos é «cor: um colóquio sobre luz e pigmento nas ciências, nas letras e nas artes». À semelhança dos anos anteriores, aceitamos investigadores de qualquer ciclo e área de estudos (literatura, história, filosofia, artes plásticas e performativas, ciências naturais e outras), deixando à sua responsabilidade a noção de conseguirem ou não, no seio da sua área, desenvolver um trabalho científico que se enquadre no tema proposto.

Os encontros acontecerão em horário pós-laboral, de três em três semanas, entre fevereiro e junho, com a presença de convidados que darão o mote da conversa. As datas estão definidas desde o início dos encontros, pelo que os participantes terão ainda de assumir o compromisso de poder estar presente. Todos terão o direito de apresentar publicamente o seu trabalho num colóquio em outubro de 2017 e de o ver publicado numa próxima edição da Revista Curupira.

Inscrições até 31 de janeiro com nome e formação para grupoestudoslusofonos@gmail.com

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«Lato sensu: uma abordagem dos sentidos e da sensorialidade»

6 de outubro de 2016 – DEG (torre A, 1º piso), FLUP

10h30 – 11h00 – Sessão de abertura
10h30 – Joana Caetano, «Fazendo sentido(s): uma nota introdutória»

11h00 – 12h00 – Mesa 1
11h00 – J. Carlos Teixeira, «dur sanc bin ze der welte geborn: emergência do som e do silêncio nas trovas de Heinrich von Morungen (Alemanha, séc. XIII)»
11h20 – Gabriel Innocentini, «Na mão de Eugénio de Andrade: testemunhar a favor do lince azul»
11h40 – Debate

Intervalo

14h00 – 15h00 – Mesa 2
14h00 – Daniel Floquet, «O cheiro da tua raiva: intuição e sobrevivência em Myra de Maria Velho da Costa»
14h20 – Márcia Schwertner, «Perdas e permanências: os sentidos como guia na busca da memória»
14h40 – Debate

15h00 – 16h00 – Mesa 3
15h00 – Filipa Silva, «Where life and death meet together: terror sensorial e estético em The woman in black»
15h20 – Paulo Brás, «Minute bodies: o medo é uma lupa»
15h40 – Debate

Intervalo

16h30 – 17h30 – Mesa 4
16h30 – Diogo Sottomayor, «A visão distorcida da anorexia: como pode a psique perturbar a visão»
16h50 – José Silva, «O sistema sensorial damasiano: entre sentidos, emoções e tipos de consciência»
17h10 – Debate

17h30 – 18h00 – Sessão de encerramento
17h30 – Natacha Barreto, «Why do some people hear colors?»

RESUMOS

Joana Caetano, «Fazendo sentido(s): uma nota introdutória»
Palavras-chave: sentidos; corpo; estudos sobre alimentação.

A sensação é fundamental para a nossa experiência do mundo. Moldados pela cultura, pelo género e pela classe, os sentidos são os mediadores do corpo e da mente, da ideia e do objeto, do eu e do ambiente. (F. Laplantine)
Após séculos do que se poderá apelidar de «uma religião da razão», durante a qual os sentidos, o corpo e as emoções foram essencialmente incompreendidos, testemunhamos um regresso do subjetivismo e das suas implicações em termos de identidade. Seguindo esta tendência, uma nova teoria tem emergido nos Estudos Culturais: os Estudos dos Sentidos. De acordo com esta linha de investigação, os sentidos são fundamentais para o entendimento da experiência humana, da realidade e do mundo. De facto, mais do que aplicar os sentidos e serem moldados por eles, os seres humanos constroem-nos e, ao fazê-lo, criam uma relação intrínseca entre sensação / perceção e racionalização. Após uma exposição teórica sobre os Estudos dos Sentidos, analisaremos a aplicação de alguns dos seus princípios no filme apocalíptico Perfect sense (2011) de David Mackenzie.

J. Carlos Teixeira, «dur sanc bin ze der welte geborn: emergência do som e do silêncio nas trovas de Heinrich von Morungen (Alemanha, séc. XIII)»
Palavras-chave: Minnesang; som; silêncio.

É certo que o trovadorismo que se viu florir durante a Baixa Idade Média se compõe por vezes de uma auto-referencialidade passível de ser analisada nas suas diferentes expressões europeias. Interessante será estudar esta mesma questão quando referente ao próprio ato da apresentação oral ou, contrariamente, ao não ato, evidenciando dessa forma um claro paradoxo dentro do próprio texto. Uma vez que a tradição alemã abraça este motivo como frequente, iremos iniciar a análise do cantar o som e o silêncio a partir do «Minnesang», culminando a mesma na reflexão dos poemas de Heinrich von Morungen, o poeta que de forma mais recorrente poetiza esta dimensão.

Gabriel Innocentini, «Na mão de Eugénio de Andrade: testemunhar a favor do lince azul»
Palavras-chave: Eugénio de Andrade; tacto; corpo.

Discuto alguns poemas de Eugénio de Andrade que tematizam a mão, em sua relação com a própria escrita (o nascimento do poema), o desejo, a luz, o animal etc. As mãos, na poesia eugeniana, contribuem para a construção de uma arquitetura gradual do mundo, verso a verso (uma consciência artesanal). Da materialidade da linguagem para uma ética solar, eis algumas linhas da comunicação e do artigo. Apoio-me nos conceitos deleuzianos de corpo-sem-órgãos e em estudos de Óscar Lopes e Luís Miguel Nava.

Daniel Floquet, «O cheiro da tua raiva: intuição e sobrevivência em Myra de Maria Velho da Costa»
Palavras-chave: Maria Velho da Costa; olfato; intuição.

A comunicação explorará a representação do olfato no romance Myra, de Maria Velho da Costa, destacando o modo como esse sentido surge associado à intuição e ao instinto de sobrevivência ao longo da narrativa. Para isso, serão utilizadas as teorias de Sigmund Freud e Friedrich Nietzsche, que entendem o olfato como representativo dos instintos primitivos do ser humano, opondo-o à visão, que estaria ligada à razão e à materialidade. Em Myra, o olfato é o caminho para o invisível, para verdades ocultas, e diz especial respeito à trajetória da protagonista homônima e do cão Rambo. A fim de melhor entender a relação destes dois personagens, será também evocado o recurso narrativo do duplo, que transforma a menina e o animal em espelhos um do outro, procurando dessa forma entender quais leituras podem ser extraídas dessa equivalência.

Márcia Schwertner, «Perdas e permanências: os sentidos como guia na busca da memória»
Palavras-chave: envelhecimento; memória; sentidos.

Em O planeta desconhecido e romance da que fui antes de mim, de Luísa Dacosta, acompanhamos a vivência de duas mulheres: Ana e Luísa, avó e neta. Na leitura dos sentidos, físico e mente não podem ser observados de forma isolada, e o retrato apresentado por Dacosta amplia essa noção, é o retrato de um corpo que se encontra a envelhecer. A primeira percepção de Luísa sobre a avó ocorre pelo olhar: no espelho e na pintura da sala, ainda criança, ela olha e compara. A partir do olhar, os outros sentidos vão sendo convocados. O presente artigo acompanha essa trajetória, observando a forma como o corpo é transformado em linguagem, garantindo significado e permanência também no momento da velhice. Como suporte teórico, são utilizadas obras de Bachelard, Bahktin, Beauvoir, Bosi, Damásio, Fonseca, Izquierdo e Perrot.

Filipa Silva, «Where life and death meet together: terror sensorial e estético em The woman in black»
Palavras-chaves: Susan Hill; terror; sentidos.

Popularmente, o género de terror é associado a sensações e emoções negativas. No entanto, muitos autores têm a capacidade de ir além dessa imagem comum, e maravilhar e inspirar os leitores, apesar de os inserirem num ambiente ameaçador e desconfortável. Esse é o caso de The woman in black, de Susan Hill. Este trabalho foca-se na forma como o desfecho da narrativa e a perceção do protagonista são influenciados pela interação exterior-interior (sensorial-psicológica). Por conseguinte, o ensaio divide-se em várias fases: identificação dos sentidos, dos seus papéis e das emoções a eles associadas (euforia, calma, inocência idílica, pânico, terror e desconforto); mapeamento da evolução psicológica do protagonista, e a sua relação com os vários elementos da narrativa. Através da análise destes pontos o desfecho da obra adquirirá um sentido distinto e positivo.

Paulo Brás, «Minute bodies: o medo é uma lupa»
Palavras-chave: Rui Nunes; doença; sublime.

Proposta de atualização do conceito romântico de «sublime» à realidade epidémica dos anos 80 e 90 como chave-de-leitura para a obra do escritor português Rui Nunes.

Diogo Sottomayor, «A visão distorcida da anorexia: como pode a psique perturbar a visão»
Palavras-chave: psiquiatria; anorexia; visão.

Na Psiquiatria, patologias como Anorexia Nervosa ou Bulimia Nervosa não são doenças que tenham surgido no séc. XXI, nem são doenças da moda. Resultam de uma interação de factores como os genéticos, os biológicos, as particularidades do desenvolvimento, as relações interpessoais na família e ainda de aspectos representativos da sociedade. Há pessoas que são mais vulneráveis do que outras ao aparecimento destas doenças. Ocorrem no seguimento de comportamentos de afirmação pessoal, da natural construção da identidade, na busca de aceitar e de ser reconhecido pela família e pela sociedade. Este trabalho debruça-se sobre esta temática com a tónica na visão distorcida que estes sujeitos têm do corpo.

José Silva, «O sistema sensorial damasiano: entre sentidos, emoções e tipos de consciência»
Palavras-chave: consciência; emoção; marcador somático.

Neste trabalho proponho-me a realizar uma reflexão filosófica e neurocientífica sobre o sistema sensorial delineado por António R. Damásio, tendo como fio condutor as noções de «sentido», «emoção» e «consciência». Assim, e partindo de O erro de Descartes, obra baseada nas hipóteses de que as emoções desempenham um papel positivo nas funções adaptativas da mente (e cujo entroncamento conceptual e prático encontra sustentabilidade na célebre «hipótese do marcador somático») tal como serão responsáveis pela tomada de uma atenção consciente dos diversos estados corporais (fenoménicos e fisiológicos), apresentarei o papel fundamental dos sentimentos que – apoiados pela arcaica fundação sensorial – oferecem o vislumbre do que acontece na nossa carne como se uma imagem momentária da mesma fosse justaposta às imagens dos objectos e das situações. Quer isto dizer que os nossos sentimentos operam uma modificação secundária (pós-sensorial) da nossa própria compreensão desses objectos e situações e, ao fazê-lo, atribuem-lhes determinadas qualidades tidas como «boas» ou «más» – e é aqui que se principia a formação e o enforme da consciência, originando o surgimento de vários «tipos». Concomitantemente, tratarei de explorar as continuidades formais entre a proposta damasiana e o paradigma psicológico contemporâneo impulsionado pela Teoria de James-Lange no qual a emoção é um sentimento secundário causado indirectamente por um sentimento primário, o qual, por si, representa uma resposta fisiológica despertada pela ocorrência de um estímulo. Em suma, pretende-se concluir o trabalho apontando a consciência humana enquanto consequência emergente do desenvolvimento emocional que opera sobre uma constelação arcaica e profusa de sentidos.

Natacha Barreto, «Why do some people hear colors?»
Keywords: chromesthesia; synesthesia; disinhibited feedback model.

In this paper focus will be placed on a specific type of synesthesia – sound-to-color synesthesia, also known as chromesthesia – and its neural basis. In order to understand this particular form of synesthesia, firstly, a descriptive analysis of this perceptual phenomenon is presented, as well as both of the major theories of the neural basis of synesthesia: the cross-activation hypothesis by Ramachandran and Hubbard (2001) and the disinhibited feedback model of Grossenbacher and Lovelace (2001). Additionally, studies conducted within the context of chromesthesia are reviewed, as well as their respective results, which mainly appear to support the disinhibited feedback model. And lastly, research performed with Japanese and Korean synesthetes is addressed as a means of cross-cultural analysis.

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CONVOCATÓRIA

O tema do segundo encontro de investigação do Grupo de Estudos Lusófonos é «Lato sensu: uma abordagem dos sentidos e da sensorialidade». À semelhança do ano anterior, aceitamos investigadores de qualquer ciclo e área de estudos (literatura, história, filosofia, belas artes, música, dança, desporto, medicina e outras), deixando à sua responsabilidade a noção de conseguirem ou não, no seio da sua área, desenvolver um trabalho científico que se enquadre no tema proposto.

Os encontros acontecerão em horário pós-laboral, de três em três semanas, entre fevereiro e junho, com a presença de convidados que darão o mote da conversa. As datas estão definidas desde o início dos encontros, pelo que os participantes terão ainda de assumir o compromisso de poder estar presente. Todos terão o direito de apresentar publicamente o seu trabalho num evento em outubro de 2016 e de o ver publicado numa próxima edição da Revista Curupira.

Inscrições até 31 de janeiro com nome e formação para grupoestudoslusofonos@gmail.com

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«Entre o sagrado e o profano: manifestações da presença e da ausência do divino»

6 de outubro de 2015 – DEPER, FLUP

10h30 – 12h30 – Aula aberta de Sociologia das Religiões
10h30 – Helena Vilaça, «O conceito de sagrado de Emile Durkheim na análise dos fenómenos religiosos contemporâneos»

Intervalo

14h00 – 16h00 – Mesa 1
14h00 – Pascoal Capita, «Uma abordagem filosófica e cultural da morte na visão dos Cabindas (Angola)»
14h20 – Manuel Gomane, «Concepção da filosofia e da religião sobre sexualidade feminina em Moçambique: entre o profano e o sagrado»
14h40 – Joelma Siqueira, «Morte e Vida Severina: o sagrado/profano em João Cabral de Melo Neto»
15h00 – Tânia Ardito, «A (re)mitificação e reinvenção da História em As Marés do Bacilon, de Henrique Abranches»
15h20 – Andreia Oliveira, «Do erótico como sagrado em Minha Senhora de Mim, de Maria Teresa Horta»
15h40 – Debate

Intervalo

16h30 – 18h30 – Mesa 2
16h30 – J. Carlos Teixeira, «Entre o sagrado e o profano: representações do novo ideal feminino no espaço alemão dos séculos XII e XIII»
16h50 – Fernanda Mendes, «Entre o sagrado e o profano: o erótico na Divina Comédia de Dante Alighieri»
17h10 – José Silva, «A Virgem Negra de Nazaré: uma análise fenomenológica»
17h30 – Pedro Ponte e Sousa, «Como é que os estudos das Relações Internacionais podem compreender a religião como uma variável (mais) valiosa e fiável»
17h50 – Nuno Matos, «Liberdade e religião, uma conjugação possível?»
18h10 – Debate

RESUMOS

Pascoal Capita, «Uma abordagem filosófica e cultural da morte na visão dos Cabindas (Angola)»
Palavras-chave: filosofia; morte; Cabinda.

Pretendemos discutir e analisar neste artigo, a partir duma abordagem filosófica e cultural do povo de Cabinda, a noção da morte. A questão de saber se existe uma vida depois da morte e a sua causa, enquanto fenómeno natural, comove-nos a problematizar a atribuição do poder sagrado e/ou profano, ou seja, o poder Divino é ou não superior, inferior ou igual ao poder natural humano sempre que se assiste ao fenómeno da morte? Diante desta preocupação, por um lado vemos a crença pelas enfermidades, acidentes, enfim várias causas como sendo fundamentais para justificar a morte de um ente querido e a supremacia do poder Divino. Por outro, vemos o cepticismo do povo de Cabinda com algumas manifestações culturais que inibem o poder Divino em prol do poder natural do ser humano.

Manuel Gomane, «Concepção da filosofia e da religião sobre sexualidade feminina em Moçambique: entre o profano e o sagrado»
Palavras-chave: filosofia e religião africana; sexualidade feminina; sagrado e profano.

Na filosofia e religião Africana, a sexualidade feminina está permeada de mitos, o que até certo ponto tem justificado toda uma série de actos de discriminação de género e violência contra as mulheres na sociedade. Debates sobre sexualidade na filosofia Africana como disciplina académica são relativamente novos quando comparados ao lugar que a sexualidade feminina ocupa na religião tradicional Africana. O objectivo deste artigo foi o de mostrar até que ponto a representação da sexualidade feminina na filosofia e religião africana podem constituir um mito e/ou facto. Como metodologia, o estudo utilizou a consulta bibliográfica. A conclusão a que o estudo chegou é de que a concepção da filosofia e da religião Africana sobre sexualidade feminina está repleta de mitos [que oscilam no pêndulo entre o profano e o sagrado] embora haja alguma verdade, não estando além da cosmo-visão filosófica grega que associava a sexualidade feminina ao corpo, considerando-os como uma deformidade natural. O estudo terminou por recomendar formas de se extrair, dentro da filosofia e da religião africana, elementos emancipatórios que possam ser utilizados no combate contra a discriminação de género.

Joelma Siqueira, «Morte e Vida Severina: o sagrado/profano em João Cabral de Melo Neto»
Palavras-chave: João Cabral de Melo Neto; literatura e religião; sagrado e profano.

Em 1952, o escritor João Cabral de Melo Neto, enquanto trabalhava no Consulado Geral do Brasil em Londres, foi acusado de práticas subversivas ligadas ao Partido Comunista Brasileiro e removido para o Brasil para responder a inquérito. O período em que permaneceu no país foi de intensa atividade literária. Observa-se em seus escritos críticos a defesa de uma literatura comprometida com a realidade social. Entre outras obras, publicou o volume Duas águas (1956), que reúne livros anteriores e os inéditos Morte e vida Severina, Paisagens com figuras e Uma faca só lâmina. O presente trabalho tem por objetivo discutir a presença do sagrado e do profano em Morte e vida Severina tendo em vista a visão materialista do escritor e aspectos relacionados aos temas religião e morte na obra.

Tânia Ardito, «A (re)mitificação e reinvenção da História em As Marés do Bacilon, de Henrique Abranches»
Palavras-chave: literatura angolana; Henrique Abranches; mitos.

A proposta de comunicação consiste no entendimento do sagrado e do profano quando da re(mitificação) e reinvenção da História, encontradas nos 2 volumes que compõe a obra As marés do Bacilon do escritor e etnólogo angolano Henrique Abranches (1932-2004). Autor editado pela primeira vez em 1960 pela Imbondeiro, foi membro do MPLA e, a exemplo de alguns outros escritores da literatura angolana, foi preso por actividades políticas. Após a independência, foi chefe do Departamento de Museus e Monumento de Angola. O seu trabalho como pesquisador das tradições culturais e religiosas dos povos de Angola reflete sempre no seus textos, como em Clã de Novembrino e Misericórdia para o Reino do Congo; ao contrário destas duas obras, em As Marés de Bacilon, Abranches ficciona uma nova História, havendo desta forma uma possível contribuição para a compreensão da trajetória angolana ao longo dos tempos.

Andreia Oliveira, «Do erótico como sagrado em Minha Senhora de Mim, de Maria Teresa Horta»
Palavras-chave: sexualidade; erotismo; feminino.

Minha Senhora de Mim (1971) é uma obra marcante no conjunto poético de Maria Teresa Horta, salientando-se a importância do elemento erótico como estruturador. Ao convocar a poesia erótica da poetisa e uma das suas primeiras obras que é, sem dúvida, um ponto de viragem na lírica portuguesa, pretende-se evidenciar a sacralização do erotismo no poema e de que forma se perspetiva. Para além disso, é pertinente trazer à discussão o conceito de pornográfico numa atitude de confrontação com o anterior, tentando-se estabelecer as suas fronteiras e os diferentes objetivos que servem. Por fim, serão tecidas algumas considerações acerca do momento histórico em que esta obra foi editada, bem como acerca da sua controvérsia e das suas implicações sociais, culturais e ao nível das mentalidades.

J. Carlos Teixeira, «Entre o sagrado e o profano: representações do novo ideal feminino no espaço alemão dos séculos XII e XIII»
Palavras-chave: germanística medieval; ideal feminino; séculos XII e XIII.

À semelhança daquilo que acontece um pouco por toda a Europa durante a Baixa Idade Média, os valores vivenciais dentro do espaço alemão são reformulados, propondo, dessa forma, um novo código cortês. No que diz respeito à figura feminina, encontram-se por vezes especificidades aparentemente paradoxais, já que a mulher seria vista como figura sagrada e/ou profana. Porque este paradoxo é particularmente evidente na Literatura da época, e em particular na poesia, o presente artigo irá sugerir a leitura e análise de alguns textos literários nos quais esta questão é trabalhada, evidenciando assim as representações dualistas que a este novo ideal feminino estariam associadas.

Fernanda Mendes, «Entre o sagrado e o profano: o erótico na Divina Comédia de Dante Alighieri»
Palavras-chave: Dante Alighieri; Divina Comédia; sufismo.

As possibilidades interpretativas da Divina Comédia de Dante Alighieri, uma das principais produções simbólicas do cristianismo na Idade Média e, ainda, da poética mundial, ainda estão longe de serem esgotadas. Neste breve artigo, pretende-se mostrar elementos que podem remeter à sacralidade do erotismo na obra sob o véu dos versos estranhos, parafraseando o próprio poeta. Além da hermenêutica filológica, este escrito fundamenta-se na teoria da inspiração dantesca em fontes islâmicas – nomeadamente no sufismo – que passou a ser aceita nos meios acadêmicos e dantescos nas últimas décadas do século XX. A tese foi apresentada pela primeira vez em 1919 pelo renomado arabista espanhol Asín Palácios, enfrentou grandes resistências e ainda carece de aprofundamentos.

José Silva, «A Virgem Negra de Nazaré: uma análise fenomenológica»
Palavras-chave: fenomenologia; Nazaré; Virgem Negra.

Na presente comunicação realiza-se uma análise teo-fenomenológica (ressalve-se que não se trata de fazer teologia propriamente dita nem fenomenologia em estado puro – à la Husserl por exemplo – mas de uma fenomenologia da teologia) sobre a imagem da Virgem Negra de Nazaré, sendo a referida entendida e trabalhada sob duas vertentes: na primeira, concernente ao culto que lhe é devido, almeja-se averiguar quantitativamente e qualitativamente a importância da sua peregrinação ao nível local e nacional, comparando-se, para tal, com outros fenómenos religiosos de pequena e de grande escala; por outro lado, na segunda vertente, pretende-se explorar a constituição propriamente dita da imagem, isto é, toda a fenomenologia que lhe é envolvente, nomeadamente o facto de se tratar de uma imagem negra e a única conhecida em Portugal.

Pedro Ponte e Sousa, «Como é que os estudos das Relações Internacionais podem compreender a religião como uma variável (mais) valiosa e fiável»
Palavras-chave: religião; Relações Internacionais; segurança.

As religiões, sistematicamente ignoradas na análise em Relações Internacionais (RI), são compreendidas pela disciplina, essencialmente, como um motor de conflitos e uma ameaça à segurança global. Analisaremos como as RI compreendem como manifestações da religião nos assuntos internacionais, como os decisores políticos e estudiosos da área pensam sobre o tema, mas também os raros assuntos em que esta a religião é considerada nos estudos de RI (nomeadamente, a influência na formação da política externa; o nacionalismo, guerras civis e terrorismo; e o papel dos apelos morais e legitimidade dos lideres religiosos; entre outros), de modo a podermos compreender porque é que a religião é ignorada pela disciplina. Em suma, se as crenças e movimentos religiosos ajudam a estruturar a política mundial, as RI devem ser capazes de tornar a religião uma variável mais operativa no seu estudo. Concluiremos, portanto, com algumas pistas para que a disciplina compreenda melhor o mundo não-secular.

Nuno Matos, «Liberdade e religião, uma conjugação possível?»
Palavras-chave: direitos humanos; tribunal constitucional; estado islâmico.

Os Direitos Humanos são essenciais para o funcionamento de uma sociedade, em toda a História da Humanidade o sagrado e o profano têm levado os Homens à procura da sua verdade, da sua própria verdade sobre o sagrado. A temática em análise irá sempre gerar polémicas e desacordos em vários pontos, mas deve ser transversal a qualquer diálogo e trocas de opiniões o respeito pela opinião do próximo e por aquilo que será o seu entendimento. Espero puder dar um contributo para esclarecimento do leitor não jurista, e acima de tudo dar uma atualização de acordo com os novos desenvolvimentos que surgiram, seja na vertente interna como na externa ao nosso ordenamento jurídico, veja-se o radicalismo crescente do autoproclamado estado islâmico, entre outras vertentes jurídico-dogmáticas atuais.

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REINTRODUÇÃO

O Grupo de Estudos Lusófonos pretende criar um espaço de debate e de divulgação de pesquisa científica. Reunindo estudantes dos diversos ciclos de estudos e de várias áreas disciplinares com professores e outros investigadores, esta iniciativa anual tentará conciliar o rigor científico com a capacidade de comunicação e de transferência de conhecimento, num ambiente de que todos se sintam parte.

Criado pelas investigadoras Carolina Marcello e Andreia Oliveira com o Professor Doutor Francisco Topa, os três primeiros anos do grupo assumiram uma presença bastante regular na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Lá tomaram lugar a primeira edição sobre censuras e liberdade (2011), a segunda sobre crime e castigo (2012) e a terceira sobre a simbologia do fogo (2013) do grande encontro anual do GEL, que sintetizava todos os esforços da equipa de produção, criando a tradição na FLUP da «semana lusófona» no início de outubro.

No ano letivo 2012-13, começou a tornar-se clara a insuficiência de um encontro por ano, pelo que se optou por criar três jornadas que de alguma forma preparavam o tema do III Encontro: a primeira direcionada para o Brasil (inverno de 2012), a segunda para os países africanos de língua portuguesa (primavera de 2013) e a terceira para as relações entre autores canónicos e autores marginais (verão de 2013). Comunicações dos três encontros e das três jornadas compuseram as três edições da primeira série da revista «Curupira», editada pelo Grupo de Estudos Lusófonos desde 2012. A estas publicações foram ainda acrescentadas secções de ficção literária inédita.

Depois do III Encontro, foi necessária uma restruturação. Ao longo dos primeiros três anos de existência, a renovação do grupo passou pela entrada e saída de elementos, o que dificultou os esforços do núcleo fundador para que a premissa de criação do projeto não se descaracterizasse. Por esta razão, o IV Encontro não se realizou no quarto ano de atividade, preferindo-se parar momentaneamente esse processo para repensar a estratégia de ação, sem deixar, no entanto, de continuar a trabalhar.

Datam deste período, o ano letivo 2013-14, atividades de menor formato, algumas em colaboração com outros agentes culturais: a produção da leitura integral de uma obra do Professor Doutor Pires Laranjeira pelo próprio, de um encontro de leitura de poesia por alunos de várias nacionalidades e de uma instalação pela liberdade de expressão em homenagem aos quarenta anos do 25 de abril.

O GEL marcou ainda presença em três edições do projeto Bairro dos Livros, organizado pela cooperativa cultural Culture Print que trabalha diretamente com as livrarias e alfarrabistas da baixa portuense, com uma atividade infantil a partir da lenda do Curupira, que dá nome à nossa publicação, e um happening a partir de textos de autores portuenses; em outubro de 2014, em vez do IV Encontro na FLUP, marcou presença na edição lusófona do Bairro dos Livros, com uma conversa entre o GEL e a escritora e jornalista Vanessa Ribeiro Rodrigues.

CONVOCATÓRIA

Ao entrar em 2015, o grupo sente-se preparado para retomar os trabalhos, fazendo do GEL não um grupo restrito de alunos da FLUP que em primeiro lugar são produtores de colóquios, e só em segundo plano investigadores, mas literalmente um «grupo de estudos lusófonos» em que os seus membros são antes de mais estudantes (no sentido de «quem estuda» e não de quem se encontra inscrito num curso).

O nosso objetivo para 2015 é experimentar um processo de investigação com qualquer pessoa que pretenda debater um tema e criar um trabalho científico para ser apresentado e publicado no fim dos encontros. O tema para esta primeira edição é «Entre o sagrado e o profano: manifestações da presença e da ausência do divino». Aceitamos investigadores de qualquer área de estudos (artes, filosofia, história, jornalismo, literatura, sociologia, teologia e outras), deixando à sua responsabilidade a noção de conseguirem ou não, no seio da sua área, desenvolver um trabalho científico que se enquadre no tema proposto.

Os encontros acontecerão em horário pós-laboral, duas terças-feiras por mês, entre março e junho. As datas estão definidas desde o início dos encontros, pelo que os participantes terão ainda de assumir o compromisso de poder estar presente. Todos os participantes terão o direito de apresentar publicamente o seu trabalho num evento em outubro de 2015 e de o ver publicado na próxima edição da «Curupira».

Desta forma, o encontro de outubro passará a ser apenas uma apresentação de resultados do processo realizado ao longo do semestre. Assumimos que se perderá uma componente espetacular que os anteriores encontros de vários dias tinham, mas ganhar-se-á certamente uma média de qualidade bastante superior e mais nivelada por acrescentarmos a valência da discussão coletiva ao trabalho individual de cada investigador. Todos os alunos partirão da mesma bibliografia básica cedida pelo GEL no início do processo de estudo, mas, a partir da troca de experiências, espera-se que durante o semestre cada um consiga construir o seu caminho, acabando por sugerir novas e mais complexas leituras.

Datas definidas: março, 10 (introdução) e 24; abril, 7 e 21; maio, 12 e 26; junho, 9 e 30 (apresentação privada de resultados). Haverá ainda um encontro extra em setembro para preparação da apresentação pública de resultados em outubro.

Inscrições até 8 de março com nome e área de formação para grupoestudoslusofonos@gmail.com.

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